O comunicado com que o Copom informou a alta da taxa básica Selic em 0,25 ponto percentual, para 11% ao ano, trouxe um tom menos propenso à continuidade do aperto monetário que o esperado pelo economista do Barclays para a América Latina, Marcelo Salomon. "Minha leitura é que o BC vai avaliar se a pressão inflacionária [dos preços dos alimentos] é realmente temporária", diz Salomon, que não espera nova elevação da Selic na reunião de maio.
"Antes da reunião, minha projeção era de que o BC não sobe a taxa em maio. Vou mantê-la", disse o economista. Leia os principais trechos da entrevista.
Valor: Qual a interpretação do senhor para o comunicado do Copom do Banco Central?
Marcelo Salomon: O comunicado foi mais "dovish" [menos inclinado à continuidade do aperto] do que eu estava esperando. Achava que o Copom manteria a mesma mensagem do encontro de janeiro, de que estava dando prosseguimento ao processo. Mas o BC trouxe uma mensagem diferente, de que vai monitorar o cenário para então definir os próximos passos. A volta da expressão "neste momento" também é um sinal dovish. Minha leitura do comunicado, em conjunto com o Relatório de Inflação, com indicação de aceleração inflacionária no curtíssimo prazo, é que o BC vai avaliar nos próximos 45 dias se essa pressão inflacionária é realmente temporária. Vai ser crucial monitorar os preços dos alimentos. Dentro do cenário mais dovish do comunicado, se esses preços começam a ceder, o BC pode parar. Antes da reunião, minha projeção era de que ele não sobe a taxa em maio. Vou mantê-la. Vamos ver a ata [do Copom] para ver a ênfase que o BC vai dar a esses condicionantes que vão monitorar, que são sempre atividade e inflação. Mas hoje acho que o principal é a inflação.
Valor: Qual será o impacto da decisão do Copom sobre as expectativas inflacionárias?
Salomon: As expectativas são formadas muito com o olho na inflação corrente. Se a inflação acelerar, as expectativas vão subir novamente. Eu acho que esse tom mais dovish do comunicado não leva diretamente a uma elevação das expectativas. Acho que não vai haver alteração no curto prazo, que as expectativas vão ficar mais ou menos paradas perto do nível atual.
Valor: Com a decisão de ontem, o atual processo de aperto monetário já soma 3,75 pontos percentuais. É suficiente para por a inflação em trajetória declinante?
Salomon: Não veremos isso [inflação em trajetória declinante] neste ano. Possivelmente possamos ver em 2015. Depende muito dos preços administrados. A inflação brasileira vai ficar pressionada no médio prazo por esses preços. O BC vai ter que saber trabalhar muito essa relação entre preços livres e administrados para assegurar uma desaceleração dos índices de inflação. De alguma forma, vai ser preciso uma desaceleração dos preços livres, porque os administrados vão ter que subir.
Valor: Faz sentido interromper o processo de aperto monetário em maio sem garantir que a inflação esteja em trajetória declinante? Ainda veremos efeitos defasados desse ciclo de alta?
Salomon: É o que o BC vem dizendo. Ele quer ver quais são os efeitos da política que ele já implementou. A economia está desacelerando, a demanda domestica está desacelerando. Não vai entrar em uma recessão como muitos temiam no início do ano, mas perdeu força. Essa é hoje o grande dilema para a política monetária. Olhando para a frente, com essa questão dos preços administrados, o BC vai ter que subir os juros em 2015. Mesmo que não tenha parado hoje [ontem] o processo, vai ter que subir. Porque o que vai ser dado a mais de alta da Selic não será suficiente para trazer a inflação para baixo de 6% ao ano. Meu cenário é que o BC interrompe o aperto agora e a inflação fica em 6% neste ano. O BC retoma o processo no início do ano que vem com mais um ciclo de 100 pontos [1 ponto percentual] e a inflação fica perto de 5,5% em 2015.
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"Antes da reunião, minha projeção era de que o BC não sobe a taxa em maio. Vou mantê-la", disse o economista. Leia os principais trechos da entrevista.
Valor: Qual a interpretação do senhor para o comunicado do Copom do Banco Central?
Marcelo Salomon: O comunicado foi mais "dovish" [menos inclinado à continuidade do aperto] do que eu estava esperando. Achava que o Copom manteria a mesma mensagem do encontro de janeiro, de que estava dando prosseguimento ao processo. Mas o BC trouxe uma mensagem diferente, de que vai monitorar o cenário para então definir os próximos passos. A volta da expressão "neste momento" também é um sinal dovish. Minha leitura do comunicado, em conjunto com o Relatório de Inflação, com indicação de aceleração inflacionária no curtíssimo prazo, é que o BC vai avaliar nos próximos 45 dias se essa pressão inflacionária é realmente temporária. Vai ser crucial monitorar os preços dos alimentos. Dentro do cenário mais dovish do comunicado, se esses preços começam a ceder, o BC pode parar. Antes da reunião, minha projeção era de que ele não sobe a taxa em maio. Vou mantê-la. Vamos ver a ata [do Copom] para ver a ênfase que o BC vai dar a esses condicionantes que vão monitorar, que são sempre atividade e inflação. Mas hoje acho que o principal é a inflação.
Valor: Qual será o impacto da decisão do Copom sobre as expectativas inflacionárias?
Salomon: As expectativas são formadas muito com o olho na inflação corrente. Se a inflação acelerar, as expectativas vão subir novamente. Eu acho que esse tom mais dovish do comunicado não leva diretamente a uma elevação das expectativas. Acho que não vai haver alteração no curto prazo, que as expectativas vão ficar mais ou menos paradas perto do nível atual.
Valor: Com a decisão de ontem, o atual processo de aperto monetário já soma 3,75 pontos percentuais. É suficiente para por a inflação em trajetória declinante?
Salomon: Não veremos isso [inflação em trajetória declinante] neste ano. Possivelmente possamos ver em 2015. Depende muito dos preços administrados. A inflação brasileira vai ficar pressionada no médio prazo por esses preços. O BC vai ter que saber trabalhar muito essa relação entre preços livres e administrados para assegurar uma desaceleração dos índices de inflação. De alguma forma, vai ser preciso uma desaceleração dos preços livres, porque os administrados vão ter que subir.
Valor: Faz sentido interromper o processo de aperto monetário em maio sem garantir que a inflação esteja em trajetória declinante? Ainda veremos efeitos defasados desse ciclo de alta?
Salomon: É o que o BC vem dizendo. Ele quer ver quais são os efeitos da política que ele já implementou. A economia está desacelerando, a demanda domestica está desacelerando. Não vai entrar em uma recessão como muitos temiam no início do ano, mas perdeu força. Essa é hoje o grande dilema para a política monetária. Olhando para a frente, com essa questão dos preços administrados, o BC vai ter que subir os juros em 2015. Mesmo que não tenha parado hoje [ontem] o processo, vai ter que subir. Porque o que vai ser dado a mais de alta da Selic não será suficiente para trazer a inflação para baixo de 6% ao ano. Meu cenário é que o BC interrompe o aperto agora e a inflação fica em 6% neste ano. O BC retoma o processo no início do ano que vem com mais um ciclo de 100 pontos [1 ponto percentual] e a inflação fica perto de 5,5% em 2015.
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